Entrevista con Edi Fonseca
ganadora del Premio labEmilia 2017 de Primera Infancia
Edi Fonseca é pedagoga, professora brasileira, autora e pesquisadora na área de leitura para crianças. Autora do projeto As crianças pequeninas e a literatura – banhos de linguagem, um dos três projetos de destaque da primeira edição do curso “A poética da primeira infância”, ministrado por Yolanda Reyes. Trata-se de um plano de formação, em andamento, que destaca a importância da leitura nas creches e centros de educação infantil e também discute a relação: formação dos profissionais e qualidade das propostas literárias para crianças até 3 anos. Edi estudou pedagogia na USP, fez curso profissionalizante de teatro e pós-graduação sobre a Arte de Contar Histórias. Iniciou sua trajetória trabalhando em creche.Durante anos trabalhou como narradora oral e realizou apresentações em escolas, livrarias, bibliotecas, eventos culturais e empresas. Escreveu o livro Interações: Com olhos de ler, que foi aprovado pelo MEC em 2012 e distribuído para todas as escolas de educação infantil do Brasil. Atualmente é coordenadora de programas a distância e formadora de professores de educação infantil pelo Instituto Avisa Lá. Consultora do Programa Semear Leitores, da Fundação Bunge, colaboradora do CENPEC e do trabalho de análise e seleção de livros para os Destaques da Revista Emília.
A seguir trechos da entrevista: Seu projeto “Crianças pequeninas e a literatura – banhos de linguagem” foi destaque no Laboratório Emília de Formação, ao lado de outros dois. Fale-nos um pouco sobre como chegou à elaboração do projeto. Em 2014, participei da equipe formadora do Instituto Avisa Lá, responsável pela formação de professores de 0 a 5 anos de toda a rede de um município do interior de SP. Neste ano o tema da formação era a leitura literária. Fiquei muito envolvida com as questões sobre a leitura para os bebês, as dúvidas e dificuldades das professoras etc. A equipe do Avisa Lá foi coordenada por Beatriz Gouveia e também tivemos apoio de Cisele Ortiz, consultoria com Patrícia Pereira Leite e a partir daí estudamos bastante. Acompanhei cada vez mais Evélio Cabrejo Parra e Yolanda Reyes no Conversas ao Pé da Página, li entrevistas, livros etc. Meu trabalho de conclusão da pós-graduação foi um artigo sobre o processo de formação que vivemos nesse município e os resultados alcançados. No final do curso “A poética da primeira infância”, quando nos foi pedido para que escrevêssemos um projeto, eu tinha acabado de aceitar o trabalho de formação na creche. Pensei que seria muito bom se eu produzisse algo que realmente fosse colocado em prática e que me ajudasse com o que precisava ser desenvolvido. Então, eu me baseei em nossa experiência de formação anterior, inclui alguns conteúdos, atividades e textos de acordo com o que vimos no curso e planejei um roteiro de filmagem que pudesse apoiar o meu trabalho. As filmagens já tinham sido solicitadas pelo Instituto Avisa Lá, pois a tematização de vídeos de práticas é uma estratégia formativa bastante utilizada em nossos trabalhos. Eu apenas planejei o que seria filmado e como se relacionariam com os conteúdos da formação. Como está o andamento? Em junho realizei o 4º. encontro de formação e a última filmagem com as crianças de 1 ano e de 1 ano e meio a 2. Percebo que as professoras começam a observar melhor os livros escolhidos para as leituras, elas têm pensado mais na organização dos livros nas salas, o acesso a esses livros e principalmente, se mostram muito interessadas por compreender o desenvolvimento dos bebês e das crianças. Como isso faz falta! As filmagens nas salas com as crianças pequenas têm sido muito importantes! Observar suas reações, a forma como cada uma participa, seus movimentos, gestos, a demonstração por seus interesses, a ligação com as histórias e com os livros. Outro dia fiz uma leitura de Bruxa, bruxa venha à minha festa para três bebês de 1 ano. Um deles ficou encantado com o tubarão e dizia ter medo. Eu fiz uma brincadeira: cada vez que ele dizia que tinha medo, eu fechava o livro e fazia de conta que ia guardá-lo. Ele então apontava para o livro, e quando eu perguntava se queria ver a imagem do tubarão novamente ele fazia um movimento com a cabeça. Isso se repetiu umas 20 vezes, sei lá… No começo ele dizia ter medo, depois resolveu aproximar seu pé até a ilustração da boca do tubarão, depois a mão e por fim, ele dá um beijo na página do livro. Durante aquele jogo entre nós, foi percebendo que aquela era apenas uma representação de um tubarão e que não corria risco algum. Achei maravilhoso! Quais as expectativas para a conclusão do projeto? Temos conversado muito sobre as especificidades da primeira infância e a necessidade de acreditarmos nas crianças como indivíduos potentes. Se olharmos assim para elas, teremos mais condições de fazer boas propostas, boas intervenções, de escutarmos e considerarmos o que nos dizem e levarmos mais a sério esta fase tão preciosa. A expectativa é que possam olhar para os bebês, as crianças e para a literatura de outra forma – que a leitura e as cantigas não sejam apenas para entreter ou acalmar o grupo, que os livros de qualidade estejam nas mãos dos pequeninos (não dá para ser qualquer material como nos disse Yolanda no curso: “queremos os melhores!”) que as histórias, cantigas e brincadeiras cantadas sejam valorizadas como bagagem cultural e alimento para o psíquico. Em sua opinião, quais são hoje os grandes desafios para ampliar o número de crianças leitoras no Brasil? Não sei falar de todos, mas um grande desafio é promover muitas e boas experiências leitoras para os educadores: professores, coordenadores pedagógicos, diretores, supervisores e técnicos das secretarias de educação. Eles precisam se aproximar dos livros, ler as histórias que serão apresentadas às crianças e se divertir com elas, sentir emoção, encantamento, desafio, estranhamento etc. Desta forma terão mais condições de se tornarem parceiros de leitura. Para isso precisamos investir na formação das equipes. Se estiverem preparados, compreenderão o papel da leitura, garantirão os espaços de apreciação, conversa e troca, deixarão de fazer atividades desnecessárias (como desenhar a parte que mais gostaram da história), saberão orientar as famílias e profissionalizar cada vez mais os seus fazeres. Como vê o atual cenário do livro, da leitura e literatura pra crianças no Brasil? Nos últimos anos os livros passaram por um “boom” e muitos títulos foram e ainda são produzidos. Nem tudo é bom, claro. Mas tem muita obra primorosa. Acontece que escolhe melhor quem tem mais familiaridade com os livros e percebe as diferenças na qualidade. Caso contrário, os vendedores de livros de cidades pequenas ou distantes acabam trabalhando inúmeras vezes com acervo mais em conta, porém de baixa qualidade e os bons livros ficam apenas nas mãos da minoria. Nos últimos anos o governo enviou bom acervo para todo o país. Infelizmente, ainda temos escolas que não abrem as caixas para saber quais livros estão lá dentro ou trancam os livros no armário da coordenadora (para não estragarem) ou disponibilizam as obras sem muito aproximação ou cuidado, o que gera descaso e desvalorização. Por outro lado, faz tantos anos que existem programas voltados à leitura, os livros têm chegado a todos os cantos, as livrarias e bibliotecas mudaram sua forma de atendimento (muito mais preocupadas com os interesses do público), os livros digitais tomando seu espaço, enfim, eu acredito que paulatinamente a quantidade de leitores vai crescer. Como foi a experiência no curso do Laboratório Emília de Formação? Uma experiência enriquecedora, muito deliciosa e com ótima duração! Fizemos contato com profissionais de diferentes países, então a troca fica bastante produtiva. Os materiais disponibilizados são ótimos: textos, vídeos, documentos e slides. Gostei do ritmo dado ao curso, com intervalos equilibrados entre as semanas e as tarefas que deveriam ser realizadas. Além de Yolanda Reyes e sua ótima equipe, pudemos contar com a contribuição de convidados que aprofundaram os conteúdos como Ana Garralón, que falou sobre os livros informativos, e Stela Barbieri, que falou sobre os livros, a organização dos espaços e dos materiais. Um tanto do curso é voltado para o estudo, outro tanto para a troca e sistematização das reflexões e também com algumas tarefas buscando garantir a transposição do que foi estudado para as nossas práticas.